domingo, 1 de março de 2015

Se um tiro resolvesse

Hoje pela manhã chovia forte, mas eu precisava sair do conforto do meu quarto. Que estava cheio de pensamentos, saudades e angústias. 
Precisava sair, me livrar de tudo isso. Porque especialmente hoje um sentimento forte me tomou por inteira e não cabendo mais em mim eu precisei dividir.
Quando esperava o ônibus para ir até a casa da minha amiga, ainda chovia, e havia um senhor também a esperar. Ele me olhou com bondade.
Fiquei observando seus gestos. Tudo parecia pesar, parecia não suportar o peso do próprio corpo, que devia ter mais de 80 anos, e nem peso da alma que parecia ter muito mais.
Decidiu ir até o outro lado da rua para pegar um cabo de vassoura para se apoiar, quase caiu. Eu sem saber o que fazer ofereci ajuda, mas ele gentilmente recusou.
Atravessou novamente a rua. Agora de bengala podia se apoiar melhor.
Tinha a barba bem branquinha, e carregava uma bolsa onde armazenava a urina. O que revelava ainda mais a fragilidade de seu corpo.
Já desistindo de esperar o ônibus, decidiu ir embora. Passou por mim, sorriu novamente e falou:

- Será que se eu comprar um revólver e der um tiro no ouvido resolve?

Eu na minha timidez apenas perguntei:

- Mas por quê?  
              
-Ah! Minha filha eu já sofri demais nessa vida. Não agüento mais. Mas sou temente a Deus, e vou esperar o tempo dele. Acredito que o inferno é aqui mesmo, e eu estou pagando por tudo, tenho que suportar.

Eu não sabia o que falar, ainda estava surpresa com a angústia daquele homem, que era maior que a minha. Eu apenas fiquei tentando sentir a sua dor, e como retribuição sorri de volta. E tentei em meu sorriso demonstrar ternura. Nem piedade nem compaixão, apenas ternura.
Ele partiu lentamente, mas aquela frase ficou em meus pensamentos:
“E se um tiro resolvesse?”

Não, não resolveria!! 

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