Hoje pela manhã chovia forte, mas eu
precisava sair do conforto do meu quarto. Que estava cheio de pensamentos,
saudades e angústias.
Precisava sair, me livrar de tudo isso. Porque especialmente
hoje um sentimento forte me tomou por inteira e não cabendo mais em mim eu
precisei dividir.
Quando esperava
o ônibus para ir até a casa da minha amiga, ainda chovia, e havia um senhor
também a esperar. Ele me olhou com bondade.
Fiquei
observando seus gestos. Tudo parecia pesar, parecia não suportar o peso do
próprio corpo, que devia ter mais de 80 anos, e nem peso da alma que parecia
ter muito mais.
Decidiu ir até o
outro lado da rua para pegar um cabo de vassoura para se apoiar, quase caiu. Eu
sem saber o que fazer ofereci ajuda, mas ele gentilmente recusou.
Atravessou
novamente a rua. Agora de bengala podia se apoiar melhor.
Tinha a barba
bem branquinha, e carregava uma bolsa onde armazenava a urina. O que revelava ainda
mais a fragilidade de seu corpo.
Já desistindo de
esperar o ônibus, decidiu ir embora. Passou por mim, sorriu novamente e falou:
- Será que se eu
comprar um revólver e der um tiro no ouvido resolve?
Eu na minha
timidez apenas perguntei:
- Mas por quê?
-Ah! Minha filha
eu já sofri demais nessa vida. Não agüento mais. Mas sou temente a Deus, e vou
esperar o tempo dele. Acredito que o inferno é aqui mesmo, e eu estou pagando
por tudo, tenho que suportar.
Eu não sabia o
que falar, ainda estava surpresa com a angústia daquele homem, que era maior
que a minha. Eu apenas fiquei tentando sentir a sua dor, e como retribuição
sorri de volta. E tentei em meu sorriso demonstrar ternura. Nem piedade nem
compaixão, apenas ternura.
Ele partiu
lentamente, mas aquela frase ficou em meus pensamentos:
“E se um tiro
resolvesse?”
Não, não
resolveria!!
Triste realidade mais muito realista em pensamentos.
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