Tem um pé de caju no meu quintal
Foi meu pai que plantou
Há 13 anos atrás
Ele já foi pequeno
Já foi estrondoso
Já deu muitos frutos
Os pássaros faziam festas se aproveitando dos frutos, da sombra
As pessoas que passavam sempre pediam um caju como se fosse para ser de todo mundo, pra ser dividido
O tempo passou
Meu pai morreu
Minha foi embora
O cajueiro ficou
Tem uns 3 anos que ele morre e não morre
A gente declarou até a morte dele, de tão seco, de tão ferido que ele parecia
Os frutos já não vingavam
Os pássaros já não faziam festa
As pessoas já não o olhavam mais
Aí eu voltei a morar nessa casa
Lembrei do quanto ele foi meu refúgio
Cuidei dele
Acreditei que um dia ele sobreviveria
Mesmo sem tantos frutos
Mesmo com folhas que pareciam machucadas demais
Hoje ele voltou a florecer
Hoje ele me deu um lindo caju
Depois de anos com frutos tão feridos e machucados que ninguém comeria
Hoje ele me mostrou um caju diferente, ainda machucado
Ainda cheio de marcas
Mas bonito
Não sei se é o pé de caju que tá mais bonito
Ou se são meus olhos que mudaram
Eu olho pra esse lindo caju, vejo e consigo entender que o processo de cura pode demorar mas é necessário
Quantas vezes eu achei que tinha morrido
Quantas vezes eu achei que não seria mais uma “festa”
Hoje, me olho com calma
Conheço minhas feridas
É assim como esse cajueiro eu me refaço quantas vezes for necessário
Já não me importo em servir tanto
Só quero estar inteira e viva
Pronta pra esse novo capítulo da vida!

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