quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A chuva que caía

Chovia forte e já era tarde da noite. Ela estava cansada de tudo, da forma como agia e de como os outros agiam com ela. Cansou de carregar o mundo nas costas, de colocar um sorrizo no rosto pra cuidar da dor dos outros. Quando tudo dentro dela estava aos pedaços. Chovia forte, as amigas lhe ofereceram carona, mas ela disse que não queria incomodar, nunca quis. Ela sentia que a pergunta feita era apenas por obrigação, por educação. Ninguém se preocupava de verdade se chegaria bem em casa. Todos acreditavam que ela se virava bem. Morava longe e voltava tarde. Pegava o último ônibus, descia e andava pelas ruas desertas e escuras até chegar em sua casa. Ela não se importava muito com o risco que corria todo dia. Mas naquela noite sentiu vontade de que alguém insistisse em levá-la pra casa. Que alguém se preocupasse se ela chegaria bem. Mas ninguém teve essa coragem. Então ela voltou pra casa, sozinha, na chova e na rua escura. Desceu do ônibus e nem olhou pros lados pra atravessar a rua. Sentiu a chova forte e gelada cair sobre suas lágrimas quentes. Percebeu o quanto estava sozinha e só desejou se desintegrar no meio daquelas gotas que caiam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário