Quando acordei eu já sabia, seria um dia difícil. Depois de muita resistência decidi levantar e encarar o mundo lá fora, mas não havia ânimo em mim. Não senti fome ou qualquer outra sensação que não seja de imensa tristeza. O mundo lá fora parecia tão cinza e sem graça que gostaria de ficar ali, no meu mundinho particular, onde invento cores pra me alegrar.
Mas nesse dia, nada, nada tinha cor.
Só queria que esse dia passasse logo. Mas os minutos tinham longas pernas.
Já não era possível disfarçar tão bem quanto antes. Com um sorriso no rosto, eu dizia aos que me perguntavam como estou: - Estou uma merda. Mas nada podiam fazer, acho que até meus vários personagens desistiram de mim. Me abandonei como qualquer outro faria.
Decidi caminhar um pouco sozinha, era final de tarde. Não só escurecia o dia como eu também escurecia.
Pessoas passavam por mim, casais abraçados e amigos conversando. Senti saudade. Saudade de conversar com meus amigos e sentir que a vida é leve. Saudade de receber um abraço. Saudade do que ainda não vivi. Saudade de um dia ser par.
Segui em frente.
No final do caminho havia um banco com duas pessoas. Uma amiga estava sentada ao lado de um rapaz. Ela me chamou, e perguntou sem rodeios o motivo de eu estar assim, de cabeça baixa e olhar triste. Eu respondi: - A vida. Então me apresentou seu novo amigo e disse que nos daríamos muito bem. O ônibus que ela esperava chegou, e ela partiu. Mas antes disse: - Conversa com ele. Vocês vão gostar muito um do outro.
Ela parecia ter adivinhado que eu precisava conversar. Precisava só de um amigo, de algum novo motivo pra me alegrar.
Perguntei a ele para onde estava indo. Ele me disse que só estava fazendo companhia a ela e que adoraria me fazer companhia também. Eu disse que não queria incomodar mas, que não tinha planos nenhum pra as próximas horas. Ele também não.
Então conversamos. Não me recordo quantas horas passaram. Ele ainda era estranho pra mim, mas decidi revelar a ele os meus motivos para estar triste. Não havia nada mais a perder. Ele sem nem me conhecer, me disse tudo que eu precisava ouvir. Na verdade me disse além, me fez perceber que ainda existe uma pessoa incrível dentro de mim. Ali naquele banco nós conversávamos sobre cachorros, crianças, planos acadêmicos, música, filmes e amores. Ele parecia um velho amigo. Meu mais novo velho amigo.
Os minutos que antes estavam pesados, passaram rápido. Eu gostaria de parar no tempo, ali, naquele banco, naquela noite, naquele sorriso aconchegante do meu novo amigo e confidente. Ele foi gentil como eu não lembrava que alguém poderia ser. Me acompanhou até onde conseguia - por preocupação, disse ele. Preocupação? Talvez ele não tenha percebido, mas senti vontade de chorar. Chorei por dentro como cada palavra e gesto de carinho que ele me ofereceu.
Ele foi capaz ouvir com paciência cada medo e angústia que eu revelava. Enquanto até eu mesma me perdia nas palavras, ele me achava. Prestou atenção em cada detalhe, e depois de tudo me vez rir por nada. Sem motivos nós rimos. E ele me fez ver que eu só precisava ver com outros olhos. E eu fui capaz de ver com os olhos dele a minha vida. E me senti alegre novamente, como a muito não me sinto.
Aquele dia poderia ter sido o pior dia da minha vida. O dia que eu não gostaria de ter levantado da cama. Mas aquele rapaz, de barbas compridas e olhos negros, me fez voltar a sonhar. Cheguei em casa radiante.
Deitei na cama e só tive um pedido a fazer: hoje eu não quero dormir só.
Quero sonhar com ele.
Sonhar com tudo que ainda não disse e com o que eu gostaria ouvir.
Acordei pela manhã com um sorriso no rosto. Sim! Eu sonhei com ele. Brincávamos em algum parque. Riamos e conversávamos como dois velhos amigos. Não sei se o verei novamente. Será que ele realmente existiu, ou mais uma vez eu inventei?
Mas gostaria de dizer que ele pintou de todas as cores as paredes cinzas do meu mundo.
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